Sísifo fora execrado pelos deuses a cumprir um trabalho inútil por toda a eternidade: empurrar uma enorme pedra, montanha acima; Lá chegando, ela rola montanha abaixo e num trabalho contínuo, Sísifo desce e em seguida a empurra novamente até o alto, e assim de modo indefinido, numa verdadeira repetição interminável por toda sua vida.
O seu castigo, é a desgraça de uma condenação que, o obriga a se concentrar em um trabalho inútil. Os deuses o condenaram por que ele amava extremamente a vida, e menosprezava a morte e a eles.
E nós, será que fomos todos levados ao mesmo destino? O castigo de Sísifo, parece-nos o mesmo que temos que enfrentar todos os dias? Acordar no mesmo horário, enfrentar o mesmo trânsito, realizar o mesmo trabalho,...dia após dia...sem mudanças, somente rotinas e longas horas que se repetem, se reproduzem, se refletem, se ecoam indeterminadamente?
E pior, estaríamos amaldiçoados a ler e ouvir invariavelmente as mesmas notícias nos jornais, que relatam a bandidagem praticada por alguns governadores de nossa nação? Além, é claro, do descaso das autoridades com a educação, alimentação, segurança e saúde pública que impera em nosso país?
Me parece que ao contrário de contemplar preguiçosamente este triste quadro, deveríamos em primeiro lugar, propor uma circunspecção, uma discussão dessa morte espontânea e pacífica, frente à falta de esperança e ao conformismo com a realidade diária.
Isto é grave, porque nos leva a total falta de expectativas com relação ao nosso próprio futuro e até mesmo ao futuro de todo povo brasileiro que parece condenado a viver a realidade política que se apresenta repetidamente, como no mito apresentado pelo filósofo.
A impressão que fica é que a grande maioria de nós, prefere somente rolar a pedra montanha acima e correr de volta, montanha abaixo.
A condenação parece tão bem enraizada em nossa cultura, que apesar de saber que o dia de empurra-la, é o dia das eleições, não fazemos nada, além de acompanhar fielmente, depois, os quatro anos que ela leva para descer, e então empurrá-la igualmente ladeira acima...
O Mito de Sísifo é de Albert Camus, Escritor e filósofo francês. Nascido em 7-11-1913, Mondovi, Argélia e falecido em 5-1-1960, Villeblevin, França.