Antigamente se usava a frase “nunca se sabe o dia de amanhã”. É curioso como essa expressão sumiu de nossas conversas e, desse modo, do imaginário coletivo sempre expresso nos temas cotidianos. O “dia de amanhã” era o jeito de falar sobre algo concreto, mas sobre o qual nada se sabia. O “dia de amanhã” era mais do que o dia que vem depois do “dia de hoje”. Era o cuidado com o tempo vindouro.
O “dia de amanhã” representava um conceito de futuro de que não dispomos mais desde que acreditamos no progresso tecnológico e do capital. Com ele definia-se a esfera da vida do que chamamos “porvir”: o que ocorrerá. No passado as pessoas acreditavam que era preciso uma preparação para esse tempo com comportamentos e ações que levassem a bons resultados. O futuro dependia da sorte, mas também do projeto. A relação com o futuro definia a construção de algo que seria importante “um dia”. Tal pensamento era possível porque havia uma perspectiva no sentido técnico: um olhar que partia de um ponto e queria alcançar outro. Hoje, podemos questionar se não perdemos justamente o ponto ao qual queremos chegar. Perguntar “aonde queremos chegar” com a vida que levamos hoje faz parte do desejo de uma vida justa.
O futuro era algo para o qual era preciso preparação: para o casamento, o trabalho, a vida social. A educação, antes de ser disciplina do corpo e do espírito, era preparação para tudo isso. Hoje, ninguém pensa em se preparar. Antes da preparação, privilegia-se hoje a competição geral para alcançar um lugar, se possível o primeiro. O motivo da corrida ¬ de onde vem nossa “correria” cotidiana ¬ é, porém, incerto para cada corredor.
Por Márcia Tiburi, filósofa, escritora e artista plástica.
Mais disponível em:
http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/056/
filosofia/conteudo_256699.shtml?pagina=0>.Acesso em: 18 mai.
2010.
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